31/03/2012

Olhos

Quando eu chego ela já esta morta.
O seus grandes olhos azuis já não brilham mais.
E tudo porque eu estou atrasado.
Desde que eu comecei a segui-lo parece que ele me provoca mais e mais. Ele mata elas cada vez mais próximas uma das outras e cada vez mais eu sinto como se as conhecesse. Ele faz isso comigo. Ele me provoca.
Ando de vagar elo quarto, o corpo da garota nua deitado no chão ensangüentado parece uma cena de filme. Eu queria que fosse. Maldito olhos azuis.
Queria ter forças pra poder ver esse tipo de cena e não me alterar. Tenho medo do que eu vou fazer com ele quando encontrar esse desgraçado.A marca do corte é sempre a mesma, no pescoço, letal. Possivelmente ele corta e deixa elas sanguarem até a morte. Possivelmente olhando sua agonia, vendo seus olhos azuis se apagarem. Isso me deixa louco.
Continuo averiguando o local, ele nunca falhou, nunca deixou um fio de cabelo, uma marca de digital, sangue, nada, absolutamente nada. Tinha medo de que nunca conseguisse descobrir nada, até que há um mês atras ele veio até mim e deixou um recado de sangue na minha casa. "Nunca se esqueça dos olhos azuis". Nunca vou conseguir esquecer deles.
Percebo algo no armario, ele esta entre aberto, talvez ele tenha procurado alguma coisa lá dentro. Isso me ajudaria muito. Abrindo vejo uma camera, bateria carregada, talvez ele tenha colocado ai, talvez ele me deixou um recado.
Sento na cama e rebubino a pequena fica. Olho pelo visor externo e vejo o video começar. O video filma a saida do banheiro, a garota entra no quarto agarrada ao cara, ela joga ele na cama, não consigo ver o seu rosto. Eles começam a transar. Droga nada do rosto dele. Por diversas vezes ela olha em direção a camera, dá a impressão de que ela sabe que está sendo filmada. Será que foi ela que deixou isso aqui? Assim que acabam ela abre o armario nua. pisca pra camera. Essa camera é dela. Será que ela desconfiava disso? Ou só é mais umas das perversões de hoje em dia. Ela entra no banheiro e ele nem se mexe na camera. Pouco tempo depois ele entra no banheiro atras dela. Por alguns minutos eles ficam lá dentro. Ela sai se enxugando, e ele aparece atras dela...
Meu Deus eu conheço esse rosto, sou eu na camera.
Ela cai da minha mão e explode no chão. A ultima coisa que eu consigo ver e minhas mãos envolvendo o pescoço dela e cortando com uma navalha. QUE MERDA É ESSA????
Eu??? Como assim eu??? Não é possivel isso, meu Deus...
Corro pro banheiro pra lavar o rosto, enxáguo ele e me olho no espelho. Ah esses olhos azuis...
Me encaro e percebo meu sorriso no canto da boca. escuto alguem falando comigo, minha voz dizendo...
" Você encontrou quem você tanto procura".
Meu Deus o que esta acontecendo comigo, eu preciso sair daqui, preciso de ar, preciso de....
Ao me levantar eu me fito no espelho. Estou rindo. Por que eu fiz isso? Que é essa garota? Eu sou um assassino.
Olho no espelho e vejo a gargalhada. Por isso que nunca achava eu sempre estava na cena do crime, por isso nunca desconfiaram de mim. Quem desconfiaria que o assassino tivesse investigando a si mesmo?
Olho pro espelho, estou rindo mais e mais. Esse desgraçado não vai sair impune por isso eu vou fazer o que deveria ser feito. Mas e se não for eu e se só for piração da minha cabeça. Eu sigo ele a tanto tempo que talvez isso esteja só na minha cabeça... Meu Deus o que eu devo fazer.
Eu chuto a pia e uma das gavetas se abre. Uma navalha está lá dentro.
Olho pro espelho e descubro como posso provar se sou eu ou não.
Um golpe rapido com a navalha na minha própria garganta. Rapido corte preciso, sem dor, sinto meu pulmão enxendo de sangue, me vejo olhando pra mim. Olhando eu morrer. Sim eu sou o assassino. Fui eu quem matou as garotas. Vejo isso agora. Percebo isso olhando pra mim mesmo, vendo minha propria agonia. Olhando e esperando o fim do brilho dos meus olhos azuis.

Uma Noite Qualquer

Eu chego na casa e vejo tudo apagado, bairro pobre, casa pequena, um corredor leva ao fundo e uma porta na frente depois da garagem. Tá tudo vazio mesmo, nem sinal de vida. Caminhando até a porta da frente, sigo com meus passos lentos e com o cigarro na boca. Estou entediado. Uma respiração funda enquanto coloco a mão na maçaneta da porta pra ver se está aberta.
Trancada... ótimo, vou ter que andar essa merda de lugar inteiro. Espero que tenha uma porta do fundo, se eu tiver que arrombar mais uma janela essa noite eu juro por Deus que eu peço as contas da policia.
O tempo está frio, deve ser alta madrugada agora, a lua nova faz com que o lugar pareça ainda mais escuro. Puxo a gola do sobretudo bege pra cobrir um pouco mais o pescoço e baixa o chapéu. O cigarro termina antes deu entrar no corredor.
O corredor é ainda mais escuro do que eu esperava, passando por uma janela sinto o cheiro de sangue fresco, talvez uma ou duas horas atrás. Nada novo pra esse detetive experiente. Chegando ao fundo vejo um pequeno galpão e mais uma porta para a casa principal. Ao me aproximar da porta sinto um frio na espinha, algo ali esta muito errado.
A porta esta aberta. Ótimo, o que quer que tenha passado aqui foi embora. Eu saiba que isso não quer dizer nada, esses desgraçados tendem a voltar uma hora ou outra mesmo.
Devagar eu entra na casa, dou passos rápidos pela cozinha e puxo minha arma, uma arma grande pra um homem grande. Passo pelo corredor que leva a cozinha a sala. Chegando a sala sinto o cheiro. Sangue. Fresco. A sala pequena não consegue esconder a pobreza do lugar, nada de sofás ou armários, nem uma televisão ou radio. Apenas um corpo, e sangue. Uma mistura muito bem comum pra mim.
O sangue ainda não esta seco, deve ser de menos de uma hora então. Marca de briga, tem uma parte da parede marcada, o que fez isso era forte, talvez de 120 ou 150 kilos. Talvez. Vamos para os procedimentos básicos. Ser humano do sexo masculino, usa uma camisa aparentemente branca e está descalço. Calça rasgadas e velhas, tem uma carteira no bolso mas sem documentos, uns poucos trocados, uma nota de 10 reais e algumas moedas, na carteira de motorista diz que o nome dele é Marcos. Cabelos compridos mas melados pelo sangue não consigo determinar a cor. O sangue no chão parece ser somente do corpo, nada de pegadas ou objetos alem dos do corpo, há tufos de cabelo na mão do corpo. Marcas de arranhado no peito e nas costas, ainda não encontrei a causa da morte, mas os rasgos na pele não são profundos o suficiente pra acertar algum órgão vital ou ainda uma artéria principal. Pela temperatura do corpo a hora da morte é...
(How soon is now - toque do celular)
Eu sempre peço pra ela não me ligar quando eu estou no trabalho, mas ela sempre insiste, que saco de mulher chata, juro que se eu fosse mais novo eu me separava dela. E se eu não tivesse que pagar a pensão da minha ex também. Duas ex-mulheres ia ser demais pro meu gosto, já pensou o que sobraria pra mim no fim do mês? Nem o da cerveja ia ficar, essas duas desgraçadas sanguessugas iam me deixar só com a roupa do corpo. Com uma ex só eu já estou sem calça nova a mais de um ano, imagine as duas mamando meu salário? Nunca vou deixar isso acontecer, ela vai continuar a ajudar a pagar minhas contas porque esse salário de policial é uma miséria.
Tem algo lá fora, eu vi o vulto na janela, parece que o meu assassino voltou. Exatamente como eu esperava. Deixa eu contar uma coisa pra vocês, sabe aquela historia de vampiros, lobisomem, zumbis, esqueletos errantes e essas coisas, coisas de filme sabe, então minha função e ir atrás exatamente desse tipo de criatura. Não eu não sou um caçador, menos ainda acredito em algum deus, sabe no que eu acredito? Que tudo pode ser resolvido com um pouco de pólvora, uma lamina afiada ou explosivo plástico, nisso eu acredito. Se fosse pra mim ter um deus ele ia se chamar “Artilharia Anti-Tanque”. De todas as coisas que eu vi até hoje com certeza essa me ajudaria muito. Não deus, nem o diabo, mas com certeza uma artilharia anti-tanque.
Do lado de fora da casa eu o encontro, cabelos negros e enrolados, barba por fazer, melada de sangue, prezas, deixa me ver, só podia ser um maldito morceguinho. Que ódio eu tenho desses caras, minha vida seria mais fácil se eles fossem todos personagens do Crepúsculo. Agora eu vou pegar minha estaca... hahaha nem fudendo isso funciona de verdade, quer dizer, funciona, mas enfia a porra de um pedaço de madeira de uns 50 cm no peito de qualquer um que mata, sendo vampiro ou não. Não existe água benta, nem crucifixo, o que funciona de verdade éh encher ele de bala. Ok com as balas ele não vai ficar muito tempo no chão mas ainda assim é o melhor a se fazer.
Começo a atirar e ele salta pra cima de mim, acerto o peito, duas, três vezes, quando ele me derruba no chão. Minha arma voa longe. Como sempre eu vacilei confiei demais na potencia da minha pequena e fui parar no chão antes dele cair. As presas dele estão no meu rosto, sinto o fedor de sangue do seu bafo. Ele tá babando em mim que saco. Seguro ele pelo pescoço, pra uma criatura tão pequena ele deve ter a força de um lutador de vale-tudo.
Nunca carrego uma arma extra comigo, sim eu sei, pareço destreinado, mas é que na verdade eu já to de saco cheio desse trabalho, todo dia é a mesma coisa, nada de novo, sempre esses bichinhos. Droga to devaneado, essa é minha palavra do dia, significa sonhar, imaginar, fazer castelos no ar. Volta foco nisso aqui agora, deixa eu ver se pego a arma reserva... tá eu sei que eu disse que nunca trago uma arma extra, mas isso mudou a um tempo atrás, por causa dos cachorrinhos, depois eu conto essa.
Alcancei ela na minha canela, droga ela é muito pequena pra eu derrubar ele, tenho que ser preciso com o tiro. Estou deitado embaixo de uma criatura sedenta por sangue e estou pensando em ser preciso. Preciso é o caralho, eu vou é chumbar o coco desse filha da puta. Vamos lá força um pouquinho pra cima, isso, agora coloca a arma contra a cabeça dele e...
Bang na mosca, um só no meio da cachola e chão pra ele. Pena que ele não vai durar muito tempo assim, preciso fazer algo rápido, preciso de algo....
Acho que to com sorte hoje... esse machado vai ser perfeito, vamos picar esse desgraçado e jogar ele no porta malas, acho que tenho um saco de lixo lá, fechado.
Jogo o picadinho no porta-mala e entro no carro. Acendo meu cigarro, sabe estou com a sensação de que estou esquecendo de algo. Ligo o carro e o farol acendeu. O que está na minha frente? O merdinha que morreu lá dentro. O caralho eu sempre esqueço isso, sempre esqueço do corpo. Quando é filhote de morcego tem que queimar o corpo, mas eu lembro disso??? Não, e por quê? Porque esse trabalho não me valoriza. Eu dou um duro danado nesse trabalho e ninguém pensa em me passar pra capitão, sargento, tenente. Que saco
Ligo o carro e acelero. O corpo bate no vidro gira por cima do carro e cai no chão. Paro o carro e dou a ré. Passo pelo corpo mais uma vez de ré e mais uma de frente, jogo o cigarro fora e vou embora. Chega por hoje, deixa q esse merdinha alguém venha limpar, ele não é mais problema meu, e depois pra ele poder regenerar o sol já vai estar nascendo e pronto, nesse fim de mundo aqui ninguém vai ver ele...
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Quer saber, vou limpar essa bagunça toda. Minha sogra tá em casa e com aquela velha chata lá eu prefiro fazer é cerão.