31/03/2012

Uma Noite Qualquer

Eu chego na casa e vejo tudo apagado, bairro pobre, casa pequena, um corredor leva ao fundo e uma porta na frente depois da garagem. Tá tudo vazio mesmo, nem sinal de vida. Caminhando até a porta da frente, sigo com meus passos lentos e com o cigarro na boca. Estou entediado. Uma respiração funda enquanto coloco a mão na maçaneta da porta pra ver se está aberta.
Trancada... ótimo, vou ter que andar essa merda de lugar inteiro. Espero que tenha uma porta do fundo, se eu tiver que arrombar mais uma janela essa noite eu juro por Deus que eu peço as contas da policia.
O tempo está frio, deve ser alta madrugada agora, a lua nova faz com que o lugar pareça ainda mais escuro. Puxo a gola do sobretudo bege pra cobrir um pouco mais o pescoço e baixa o chapéu. O cigarro termina antes deu entrar no corredor.
O corredor é ainda mais escuro do que eu esperava, passando por uma janela sinto o cheiro de sangue fresco, talvez uma ou duas horas atrás. Nada novo pra esse detetive experiente. Chegando ao fundo vejo um pequeno galpão e mais uma porta para a casa principal. Ao me aproximar da porta sinto um frio na espinha, algo ali esta muito errado.
A porta esta aberta. Ótimo, o que quer que tenha passado aqui foi embora. Eu saiba que isso não quer dizer nada, esses desgraçados tendem a voltar uma hora ou outra mesmo.
Devagar eu entra na casa, dou passos rápidos pela cozinha e puxo minha arma, uma arma grande pra um homem grande. Passo pelo corredor que leva a cozinha a sala. Chegando a sala sinto o cheiro. Sangue. Fresco. A sala pequena não consegue esconder a pobreza do lugar, nada de sofás ou armários, nem uma televisão ou radio. Apenas um corpo, e sangue. Uma mistura muito bem comum pra mim.
O sangue ainda não esta seco, deve ser de menos de uma hora então. Marca de briga, tem uma parte da parede marcada, o que fez isso era forte, talvez de 120 ou 150 kilos. Talvez. Vamos para os procedimentos básicos. Ser humano do sexo masculino, usa uma camisa aparentemente branca e está descalço. Calça rasgadas e velhas, tem uma carteira no bolso mas sem documentos, uns poucos trocados, uma nota de 10 reais e algumas moedas, na carteira de motorista diz que o nome dele é Marcos. Cabelos compridos mas melados pelo sangue não consigo determinar a cor. O sangue no chão parece ser somente do corpo, nada de pegadas ou objetos alem dos do corpo, há tufos de cabelo na mão do corpo. Marcas de arranhado no peito e nas costas, ainda não encontrei a causa da morte, mas os rasgos na pele não são profundos o suficiente pra acertar algum órgão vital ou ainda uma artéria principal. Pela temperatura do corpo a hora da morte é...
(How soon is now - toque do celular)
Eu sempre peço pra ela não me ligar quando eu estou no trabalho, mas ela sempre insiste, que saco de mulher chata, juro que se eu fosse mais novo eu me separava dela. E se eu não tivesse que pagar a pensão da minha ex também. Duas ex-mulheres ia ser demais pro meu gosto, já pensou o que sobraria pra mim no fim do mês? Nem o da cerveja ia ficar, essas duas desgraçadas sanguessugas iam me deixar só com a roupa do corpo. Com uma ex só eu já estou sem calça nova a mais de um ano, imagine as duas mamando meu salário? Nunca vou deixar isso acontecer, ela vai continuar a ajudar a pagar minhas contas porque esse salário de policial é uma miséria.
Tem algo lá fora, eu vi o vulto na janela, parece que o meu assassino voltou. Exatamente como eu esperava. Deixa eu contar uma coisa pra vocês, sabe aquela historia de vampiros, lobisomem, zumbis, esqueletos errantes e essas coisas, coisas de filme sabe, então minha função e ir atrás exatamente desse tipo de criatura. Não eu não sou um caçador, menos ainda acredito em algum deus, sabe no que eu acredito? Que tudo pode ser resolvido com um pouco de pólvora, uma lamina afiada ou explosivo plástico, nisso eu acredito. Se fosse pra mim ter um deus ele ia se chamar “Artilharia Anti-Tanque”. De todas as coisas que eu vi até hoje com certeza essa me ajudaria muito. Não deus, nem o diabo, mas com certeza uma artilharia anti-tanque.
Do lado de fora da casa eu o encontro, cabelos negros e enrolados, barba por fazer, melada de sangue, prezas, deixa me ver, só podia ser um maldito morceguinho. Que ódio eu tenho desses caras, minha vida seria mais fácil se eles fossem todos personagens do Crepúsculo. Agora eu vou pegar minha estaca... hahaha nem fudendo isso funciona de verdade, quer dizer, funciona, mas enfia a porra de um pedaço de madeira de uns 50 cm no peito de qualquer um que mata, sendo vampiro ou não. Não existe água benta, nem crucifixo, o que funciona de verdade éh encher ele de bala. Ok com as balas ele não vai ficar muito tempo no chão mas ainda assim é o melhor a se fazer.
Começo a atirar e ele salta pra cima de mim, acerto o peito, duas, três vezes, quando ele me derruba no chão. Minha arma voa longe. Como sempre eu vacilei confiei demais na potencia da minha pequena e fui parar no chão antes dele cair. As presas dele estão no meu rosto, sinto o fedor de sangue do seu bafo. Ele tá babando em mim que saco. Seguro ele pelo pescoço, pra uma criatura tão pequena ele deve ter a força de um lutador de vale-tudo.
Nunca carrego uma arma extra comigo, sim eu sei, pareço destreinado, mas é que na verdade eu já to de saco cheio desse trabalho, todo dia é a mesma coisa, nada de novo, sempre esses bichinhos. Droga to devaneado, essa é minha palavra do dia, significa sonhar, imaginar, fazer castelos no ar. Volta foco nisso aqui agora, deixa eu ver se pego a arma reserva... tá eu sei que eu disse que nunca trago uma arma extra, mas isso mudou a um tempo atrás, por causa dos cachorrinhos, depois eu conto essa.
Alcancei ela na minha canela, droga ela é muito pequena pra eu derrubar ele, tenho que ser preciso com o tiro. Estou deitado embaixo de uma criatura sedenta por sangue e estou pensando em ser preciso. Preciso é o caralho, eu vou é chumbar o coco desse filha da puta. Vamos lá força um pouquinho pra cima, isso, agora coloca a arma contra a cabeça dele e...
Bang na mosca, um só no meio da cachola e chão pra ele. Pena que ele não vai durar muito tempo assim, preciso fazer algo rápido, preciso de algo....
Acho que to com sorte hoje... esse machado vai ser perfeito, vamos picar esse desgraçado e jogar ele no porta malas, acho que tenho um saco de lixo lá, fechado.
Jogo o picadinho no porta-mala e entro no carro. Acendo meu cigarro, sabe estou com a sensação de que estou esquecendo de algo. Ligo o carro e o farol acendeu. O que está na minha frente? O merdinha que morreu lá dentro. O caralho eu sempre esqueço isso, sempre esqueço do corpo. Quando é filhote de morcego tem que queimar o corpo, mas eu lembro disso??? Não, e por quê? Porque esse trabalho não me valoriza. Eu dou um duro danado nesse trabalho e ninguém pensa em me passar pra capitão, sargento, tenente. Que saco
Ligo o carro e acelero. O corpo bate no vidro gira por cima do carro e cai no chão. Paro o carro e dou a ré. Passo pelo corpo mais uma vez de ré e mais uma de frente, jogo o cigarro fora e vou embora. Chega por hoje, deixa q esse merdinha alguém venha limpar, ele não é mais problema meu, e depois pra ele poder regenerar o sol já vai estar nascendo e pronto, nesse fim de mundo aqui ninguém vai ver ele...
...
...
Quer saber, vou limpar essa bagunça toda. Minha sogra tá em casa e com aquela velha chata lá eu prefiro fazer é cerão. 

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